quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A quem assusta a nova direita no País ?

Li recentemente neste jornal da qual sou assinante uma missiva a respeito do processo de impeachment, onde o escritor detalha os passos do processo, mas permeia a narrativa com comentários pessoais onde mostra ignorância e ranço ideológico. Mas não é a esse ponto que quero me ater. O ponto que me chama atenção é a citação aos “tempos sombrios de conservadorismo despótico”. Em primeiro lugar, o despotismo, sistema e político dominante nos séculos XVII e XVIII,se baseia na concentração excessiva de poder em mãos do governante, cujo sua representação mais completa se dá na frase lapidar do rei francês Luís XIV  (1643-1715)“Le Etat c´est moi”  (O Estado sou eu).  Ou seja, não pode ser identificado como de direita ou esquerda, pois ele era um sistema em si, não uma escolha política.
Esclarecido isso, me atento ao fato de que certos atores sociais e uma grande parte da imprensa, reverberando em parte da sociedade que se diz esclarecida politicamente, está assustada com a ascensão dos novos movimentos de direita do país, como se isso fosse uma coisa ruim. Prezassem esses atores o debate político como forma de esclarecimento e confluência de idéias, não teriam esse medo, mas como donos da verdade absoluta e agindo como seita,  simplesmente desconstroem o que não conhecem com ofensas pessoais, inverdades, incapazes que são de sustentar o debate sem apelar a baixeza.
Mas o que prega, afinal, a nova direita no País, que podemos também chamar de movimento liberal-conservador? Nada mais do que uma ideia que, posta em prática em grande parte do mundo ocidental, com sucesso, de crença na liberdade do indivíduo como agente de mudança social, respeito à propriedade privada e a inviolabilidade dos contratos, que tem de ser respeitados e a impessoalidade da Lei, que tem de ser igual para todos. Funciona nos Estados Unidos, na França,na Inglaterra, no Japão, entre outros países desenvolvidos, e porque não funcionaria no Brasil ? O liberal-conservador verdadeiro é humilde, aceita que o homem é falível, mas não acredita que alguém possa saber mais o que é melhor pra uma pessoa do que ela mesma, assim desconfia da ação do Estado legislando em excesso na vida do cidadão, Estado esse que deveria se ater ao principal (Saúde, Educação, Segurança) e agir apenas como agente regulador deixando livre a circulação de idéias e mercadorias. Procurando sempre o esclarecimento, preza o debate rigoroso de idéias, inclusive conhecendo todos os principais autores de esquerda, sendo que esquerdistas em geral não são capazes de citar cinco pensadores de direita. É mais fácil encontrar um exemplar de “O Capital”, de Karl Marx na biblioteca de um liberal-conservador do que de um esquerdista.Mas com medo de perder a supremacia nas universidades, na maior parte da imprensa e na política, a esquerda identifica esse ressurgimento da direita com uma parte minoritária que se identifica com o regime militar de 1964, aliás, regime esse que embora combatesse a “ameaça comunista”,economicamente não pode ser citado como um governo de direita típico, pois sua raiz remonta ao nacionalismo dos anos 1950, com idéias como “O Petróleo é Nosso” e “Brasil:Ame-o ou Deixe-o”, com algumas pitadas de economia liberal, pontuadas pelas reformas econômicas de 1967, que criaram o Banco Central e a correção monetária. Esse grupo de simpatizantes, cujo maior expoente é o deputado Jair Bolsonaro, é claramente minoritário, mas suas ações tem mais ressonância na imprensa do que o do movimento liberal-conservador típico, numa mistificação grosseira e desonesta.

O novo movimento liberal-conservador no Brasil ainda é incipiente, mas já faz barulho. Por ora a esquerda ainda não tem o que temer. Mas em algum momento, ele encontrará o devido eco na sociedade, a medida que mais pessoas forem conhecendo suas idéias, e assim caminharmos para uma sociedade com verdadeira economia de mercado, mais próspera e plena.

Texto publicado na coluna de leitores de um jornal do interior de São Paulo em resposta a canhestra declaração dado na introdução do texto sobre o conservadorismo.

Brasil (* 22/04/1500 - † 17/12/2015)

O arremedo de País que se imaginava predestinado a ser Grande faleceu na sessão do Supremo Tribunal Federal  de 17 de dezembro de 2015,que julgou o recurso sobre o rito do impeachment. Ao desprezar e jogar na lata do lixo a Constituição e o Regimento Interno da Câmara anulando os atos que esta conduziu até aqui sobre o processo de cassação da presidente da República, enfim a maioria dos ministros do Supremo pagou o que devia ao governo que os nomeou. E se curvaram tanto que a bunda apareceu.
Desmoralizaram a Câmara dos Deputados como instituição representativa, abrindo um precedente para que todos os atos da mesma venham a ser questionados juridicamente. Ou seja, sempre vai haver o risco de tapetão.
Os ilustres juristas colocaram os destinos de 200 milhões de brasileiros nas mãos do senador Renan Calheiros, um político que tem folha corrida ao invés de biografia, que deveria estar no ostracismo desde 2007, quando foi pilhado recebendo dinheiro de um lobista pra pagar as contas de uma filha fora do casamento sabe-se lá a troco de que favores.
Expuseram-se os senhores ministros a sanha da população, que há de lembrar que eles não sofrem como nós mortais os efeitos da crise econômica, haja visto que recebem por volta de R$ 34 mil reais por mês, em aumento auto-concedido no meio de um ajuste fiscal que só penaliza o povo trabalhador, graças aos erros colossais da senhora cretina a quem eles querem defender.

Espera-se que ,após isto, os nobres ministros não se surpreendam se forem hostilizados em aeroportos, restaurantes e outras áreas públicas. Só estarão seguros de apupos nos amplos, acarpetados e frescos gabinetes que ocupam em Brasília. O povo que acorda cedo e trabalha está cansado dessa corja de oportunistas e mentecaptos, que só faz destruir o sonho de milhões, a qual os togados da Corte se juntaram gostosamente com a decisão de 17/12/15.

domingo, 13 de dezembro de 2015

M1TO

Nem sempre eu adorei você.

Algumas vezes eu tive vontade de te esganar. Em nenhum jogo em especial, mas a sua saída em “X” às vezes me matava.
Mas era você atravessar o campo pra bater uma falta ou um pênalti que a minha esperança ia junto. E o sentimento quando a bola entrava era maluco. Era mais que um gol, valia uma vitória. E elas nem sempre vieram.
Duas de suas atuações são minhas favoritas, ambas pela Libertadores de 2005: contra o Tigres, nas quartas, com você acertando duas cobranças de falta espetaculares num jogo que terminou 4 a 0 e o primeiro jogo da semifinal contra o River Plate, por 2 a 0. Nestes dois jogos a camisa pesou, e era nítido o respeito e a estupefação de alguns adversários, que só lhe conheciam de nome.  “Ele existe” pareciam pensar.
Que ninguém se engane. Tirando o que chama a atenção, os gols, você é um dos melhores que já vi debaixo das traves.

Há quem não goste de você. Seguro de si, articulado, por vezes realista até demais. “Chato pra caralho!” descrito num vazamento de imagem indevido. O autor da frase, a história se encarregará de mostrar seu devido tamanho. Saiba que isso é demais num país onde as crianças só jogam futebol no videogame ou na escolinha que só estraga as futuras gerações, querendo profissionalizar crianças aos 6 anos. E  a imprensa esportiva no geral só vê jogadores de futebol como chimpanzés movimentados por pagode,com cordão de ouro e boné caro. Sua predileção por rock só causa mais estranheza num Brasil musicalmente analfabeto.
Mas milhões te amam. E esses mesmos milhões viram em 11/12/2015 a mais linda festa que um jogador de futebol já recebeu na despedida. Teremos de aprender a viver sem sua chatice e onipresença, mas sabemos que em algum momento você estará de volta. E pelo seu amor ao Tricolor não vai demorar.

Por isso, não digo adeus. Digo até logo.


Obrigado Rogério.

domingo, 6 de dezembro de 2015

A piada do jornalismo esportivo no Brasil.

Sempre gostei muito de esporte, e como todo brasileiro típico, futebol em especial. Mas meus interesses e minha vida me afastaram de acompanhar o esporte em detalhes, principalmente o futebol brasileiro. Mas já há algum tempo, tenho acompanhado como assinante de TV paga que sou uma coisa que me deixa um tanto inquieto, mas que já vem comigo desde que eu acompanhava futebol no dia-a-dia: evoluindo das antigas “mesas redondas” do futebol, os programas de análise pós-jogo e a proliferação de comentaristas esportivos, onde a maioria, nitidamente, não tem condições de analisar nem a cor da roupa do juiz.
Honestamente, eu não assistia muito as antigas mesas redondas, aquelas que, em dia de clássico levava um jogador de cada time e o pessoal da mesa gritava e esbravejava defendo o seu time ou sua opinião. Via de relance, mas não havia mesmo muita análise naquilo tudo. A coisa era mesmo bagunçada, e eu achava divertido.
Eu entendo a evolução das coisas. Daqueles comentaristas, muitos sem diploma que tinham começado em rádios do interior ou ex-boleiros com mais facilidade de comunicação, uma nova geração de comentaristas diplomados em Jornalismo e ex-jogadores mais bem preparados, daqueles que tiveram espertos empresários que investiram na formação do produto, o jogador, e hoje conseguem discorrer sobre o jogo com algum conhecimento trouxe novidades como o ar informal, mas educado, as estatísticas do jogo e o conhecimento tático.

A questão, pra mim, é que é tudo perfumaria. Mesmo não tendo diploma de nada, duvido que me saia pior do que qualquer um deles.  É nítido que maioria não tem nada a dizer, alguns só desfilam estatísticas, outros anseiam ser como o Armando Nogueira e outros só querem ser vistos como o homem das “informações quentes”.

É infernal ver essa gente comentando o jogo. Às vezes tenho a impressão de que eles estão vendo outro. E no pós, uma porção de platitudes.  Tem aqueles que batem de graça no time que torcem, só pra dizer que são “imparciais”. Em jogo internacional, a coisa só piora. Quando o jogo é o do time do momento, como o Barcelona, os caras ficam absolutamente cegos.

Dedico um parágrafo aos repórteres de campo e setoristas, aqueles que cobrem um determinado time. Com uma profusão de mídias existente (impressa, televisiva, internet), em épocas de negociação de técnicos e jogadores a coisa sai de controle. Em questão de minutos um jogador pode ser contratado, descontratado, contratado de novo e ir para o exterior, dependendo do veículo que você esteja utilizando pra se informar. E é esse conceito basilar do jornalismo que eles derrubam a cada dez minutos nessas situações. Entendo a necessidade do furo, da informação quente, mas em algum momento esses caras pensam que podem estar deixando o torcedor maluco?

E eu nem estou citando algo da qual desconfio seriamente, e que certa vez foi citado pelo ex-goleiro Marcos, do Palmeiras em uma entrevista ao descobrirem que ele fumava: as relações impróprias entre jornalistas, jogadores, dirigentes e empresários de futebol. A pobreza atual de nosso futebol é flagrante, mas como explicar que certos jogadores no máximo medianos, cheguem com status de grandes promessas e estrelas em grandes times de nosso futebol?


Pelos motivos elencados, não assisto a mais nenhuma mesa redonda, e se assisto um jogo hoje, tento não levar em conta o que a maioria dos comentaristas fala, pois os que sabem que estão falando cabem nos dedos de duas mãos.

Vamos com calma com o impeachment

Não, não sou defensor da presidente Dilma, aliás, muito longe disso. Graças a ela, sinto pela primeira vez o bafo da involução social à minha porta. Desde que me tomei por gente, posso dizer que minha vida se tornou uma evolução constante, tanto material quanto moral. Tirando atitudes pessoais que possam ter contribuído para a minha melhora ou piora desde o ano passado a parte de minha vida e de minha família que dependem de fatores externos, como a situação da economia, vem regredindo visivelmente. A cada ida ao mercado, preços diferentes, combinado com a queda do meu poder aquisitivo, pois meu dissídio coletivo é sobre a inflação medida em 12 meses do ano anterior, desconsiderando os efeitos dela em 2015, criando uma defasagem de renda faz com que sejamos vítimas da famosa piada em que sobra muito mês no fim do salário.
Dito isto, volto ao título, pois embora veja na sociedade um anseio grande de mudança no poder, e também outras mais profundas, não acredito que o impedimento da presidente seja fato consumado. Já como ser pensante, acompanhei o impedimento de Collor com atenção, e utilizando minhas lembranças, vejo algumas diferenças no processo. A principal delas, o lado que o PT ocupa.
Naquela época, o PT era estridente oposição, e utilizando sua penetração na sociedade, ajudou a instigar o movimento de impeachment. Era um momento em que a sociedade vinha altamente politizada, com uma eleição presidencial recente e economia em frangalhos. Cabe salientar também o momento em busca de ética, já que os descalabros cometidos contra economia junto às estripulias pessoais do então presidente e seus apaniguados causavam repulsa na sociedade.
Vinte três anos depois, o PT é o alvo. Com a sociedade amortecida por 13 anos de um bem-estar ilusório, que num povo inculto se associaram a relaxamento das regras morais, o momento de descalabro econômico e social que se apresenta a repulsa da sociedade novamente se mostra, com atores novos, mas com a mesma raiz, mas numa dimensão e velocidade inimagináveis tempos atrás. Mas graças à mudança no sentido de ética da sociedade, os atores políticos se descolaram da realidade e tomam decisões num tempo diferente da população, que já repudia em maioria e quer a saída do governo vigente.
Por que o tempo dos políticos ficou diferente do da sociedade? Por que os governos dos últimos 13 anos, e não há como não apontar para o PT, embora eles queiram levar o foco da desordem que proporcionaram pra uma ação orquestrada da CIA, ou uma crise internacional e inexistente e, se preciso for, numa invasão marciana contra o Brasil, trabalharam num sistema de cooptação política sem precedentes, utilizando nosso dinheiro (Sim, nosso dinheiro, pois como diria Margaret Thatcher, a dama de ferro, não existe dinheiro público, existe dinheiro dos pagadores de impostos, ou seja, nós) para a compra de políticos, através de assalto direto ao Estado (Petrobrás, Correios, Fundos de Pensão estatais, BNDES) ou o simples achaque aos entes privados cujos negócios dependem em parte, ou inteiramente, das benesses do Estado, como empreiteiros de grandes obras públicas, empresários e sim, banqueiros.
Com o nosso dinheiro, eles pagaram bem o suficiente os políticos pra entrarem numa zona de conforto onde os anseios da sociedade são deixados de lado em detrimento ao repasse de dinheiro, um cargo público, uma emenda liberada pra uma obra sem necessidade ou uma ONG fajuta. Graças a isso, consegue aliados tão díspares quanto o PSOL (contra o impeachment apenas por solidariedade ideológica, num abraço de afogados com o PT) e o PSD, controlado pelo modelo de pragmatismo fisiológico que é o ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab.
Outro braço desse grande conluio que me deixa cético quanto ao impeachment é o controle dos movimentos sociais pelo PT, no mesmo processo de cooptação em que gordas fatias de nosso dinheiro de impostos vão pra ONGs que não fazem senão defender o governo, movimentos a margem da Lei como o MST e o MTST e sindicatos e centrais sindicais que donos de privilégios, podem em última instância partir para radicalização a fim de não perder a mamata conquistada. Não é dada a devida atenção a esse fator, mas em minha opinião não pode ser desprezado.
E um último braço, o mais vergonhoso deles em minha opinião, é a absoluta parcialidade da maioria da imprensa em favor do governo. Após anos de doutrinação ideológica no ensino superior de Jornalismo, as redações estão infestadas de simpatizantes do PT e o que vemos é a mais vergonhosa campanha de desinformação já vista no Brasil, com o agravante de ser feita em tempos de imprensa livre. Recentes abusos e manifestações contra militantes pró-impeachment não são noticiadas. Desde que o presidente da Câmara Eduardo Cunha aceitou o pedido de impeachment, as TVs abertas, parte do noticiário da TV paga e um dos maiores jornais do País têm escondido opiniões e manifestações a favor e publicando e reverberando opiniões de que o impeachment é golpe, mesmo sendo previsto em Constituição com Lei específica. Vergonhosa em especial, é a postura da Rede Globo e do jornal Folha de São Paulo, especialmente, pois se as Organizações Globo ainda têm um jornal pra equilibrar com suposta imparcialidade a gritante parcialidade de seu jornalismo televisivo, a “Folha” não goza desse privilégio e embarca num adesismo vergonhoso.


Com a junção de todas essas variáveis, e com a campanha que já deflagraram cada uma a seu modo, não há como ser otimista sobre o processo de impeachment. Não embarco na onda de que Dilma já era. No fim das contas, ela só precisa de 171 votos em plenário pra se salvar. Pode ser que ela conte com 171 abnegados que vão se suicidar politicamente para salvá-lá. Mas eu certamente não dou como fato consumado que sejam conseguidos 342 votos para que o processo vá pro Senado. Só a nossa intensa pressão sobre o Parlamento fará com que o desejado pela população aconteça, mas a descoberta da sociedade de que ela pode fazer diferença é recente, e sinto que muitas pessoas ainda não entendem como isso acontece, além do cansaço que toda a situação está causando, deprimindo o País. Eu estou cético, mas não vou esmorecer.

A biografia do Dr. Tancredo, ou o jornalista que escreve torto, por linhas mais tortas ainda.

Recentemente, atravessei as caudalosas 836 páginas da biografia de Tancredo Neves, “Tancredo – A noite do destino”, do jornalista José Augusto Ribeiro, assessor de imprensa do presidente eleito, que o acompanhou durante todo período da campanha das Diretas, passando pela eleição no Colégio Eleitoral, a doença, as negociações para a posse do vice José Sarney e enfim a morte, em abril de 1985,ferida ainda em cicatrização na alma do país, trinta anos depois.

Ávido leitor de biografias que sou, devo dizer que, embora o livro tenha valor por descrever momentos cruciais da nossa história, um personagem como o “doutor Tancredo”, merecia um biógrafo melhor. E a situação só piora devido à proximidade que desfrutou com o biografado. Em vários momentos do livro, os fatos são deixados de lado para exaltação do personagem, como nas descrições do papel de Tancredo na crise da renúncia de Jânio e a adoção do parlamentarismo em 1961 desprezando outros personagens, e na ridícula tentativa de desqualificação do presidente americano Ronald Reagan durante a visita de Tancredo, presidente eleito, aos Estados Unidos em 1985, onde descreve o então presidente americano como um velho senil e idiota, que seria apenas um títere do secretário de Estado George Schultz, e não mergulha, em minha modesta opinião de leitor, com a devida atenção, na adolescência e o período na Faculdade de Direito em Belo Horizonte e também num episódio que poderia ser mais bem explorado, como o período em que junto com Pedro Aleixo, José Maria Alkmin e Milton Campos, formou o “curral de petiços” de Assis Chateaubriand na redação de “O Estado de Minas”, Além de tentar isentar o personagem da tomada de partido pró-golpe de 1964, posição de várias figuras importantes e insuspeitas (JK, Ulysses Guimarães). Às vezes por opção, mas na maioria das vezes por miopia ideológica (o autor me parece professar a fé no nacionalismo à esquerda dos anos 1950 e de lá não saiu). Ficou muito aquém do Lira Neto fez com a biografia de Getúlio Vargas, de uma sobriedade ímpar, onde ao terminá-lá você continua sem decifrar o personagem, o que pra mim significa que os fatos foram bem contados e Mário Magalhães com a de Carlos Marighela, onde embora eu não concorde com o tom heróico dado a vida do biografado, reconheço o mérito do alentado processo de pesquisa e o precioso pano de fundo histórico, inclusive descrevendo com sobriedade as trapalhadas de Luiz Carlos Prestes como secretário-geral do Partido Comunista brasileiro, que poderiam ser cenas de uma comédia pastelão.

Insisto que aí reside o pecado de José Augusto Ribeiro. Confiando em sua memória e tendo acesso a interlocutores selecionados, com um trabalho de pesquisa que eu diria insuficiente,faltando muitas vezes o contraditório, deixou muitas lacunas a serem preenchidas por quem se dispor a vir  escrever sobre um personagem fundamental  da história do Brasil do século XX. Situo sua obra no mesmo espaço ocupado pela biografia de Getúlio escrita por seu biógrafo “oficial” André Carrazoni: uma obra datada em seu conjunto, mas que abre caminho para que pesquisadores do futuro possam mergulhar mais a fundo na história.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Verdades incômodas de hoje.

Como um governo pode ter como líder um deputado cujo assessor foi pego transportando ilegalmente 100 mil dólares na cueca e 200 mil reais numa mala? E o partido da presidente ter como líder um celerado que acredita que as manifestações públicas de antagonismo a sua líder, em pleno século XXI, são orquestração da CIA ?
O PT e o governo respondam porque José "Cueca" Guimarães e Sibá Machado ocupam esses cargos. Aliás, isso explica porque o governo vive nessa indigência gritante de articulação política.

Alguém aí lembra que a nova tábua de salvação do governo, senador Renan Calheiros, presidente do Congresso Nacional, fosse o Brasil um país com um mínimo de seriedade e vergonha na cara, teria de ter enfiado a viola no saco e ter se retirado da política partidária ? O homem tinha as despesas pagas por um lobista de empreiteira (olha o precedente!), inclusive despesas de uma  filha fora do casamento.Não questiono as relações com a criança, que não tem nada a ver com isso e merece ser preservada, e sim a natureza das relaçoescom o lobista e a origem do dinheiro utilizado, e a troco de quê. Pior: o homem não só foi reeleito como voltou a presidência  do Congresso, com a anuência dos pares, que devem aliás, uma explicação a sociedade que nunca deram.

São exemplos claros do descolamento em relação aos anseios da sociedade que a classe política dá todos os dias. Mas a sociedade também tem de arcar com a parcela de culpa de relevar e não questionar esse tipo de atitude.

domingo, 26 de abril de 2015

Considerações sobre a burocracia do Estado pós-64

Acompanhei com interesse o aniversário de uma das efemérides mais complexas da história do país, que foi o aniversário, no ano de 2014 dos 50 anos do golpe militar que depôs o então presidente João Goulart.
Foi um momento delicado, devido a manifestações contra e a favor, e também ao inventário histórico do período, mas faço aqui uma reflexão sobre a influência de um ponto especifico do movimento de 64.
A raiz deste questionamento é o fato de que o Exército Brasileiro não se posicionou como unidade de imediato a favor da deposição do então presidente João Goulart. Na realidade, as tensões dentro da caserna pré-64 não permitiram uma adesão em massa à causa que nasceu no seio da classe média e das então “classes produtoras”, com a coordenação política da UDN, pois as Forças Armadas, com o Exército em destaque, eram um poço de indisciplina em tempo integral desde a revolução de 1930, que foi feita a base de insubordinação das patentes mais baixas (representada pelos “tenentes”), coordenada com os alijados do processo decisório da República Velha (a nova classe média urbana e alguns oligarcas preteridos), que acabaram empurrando a oficialidade superior para o movimento de 3 de outubro de 1930, com a chegada de Getulio Vargas ao poder.
A partir daí, houve rupturas de hierarquia e disciplina em 1932, 1937, 1945, 1954, 1955, 1961 e culminando com 1964, sempre com indisciplina e quebra de hierarquia.  Nesse intervalo, alguns dos militares que se tornaram mandatários do novo regime haviam conspirado em tempo integral, e aqueles que se dispuseram a ser apenas militares, seguindo integral e fielmente os rígidos códigos de hierarquia e disciplina, foram alijados do centro das decisões, quando não imediatamente reformados.  Nessa decisão de caráter supostamente unificador, criou-se um problema para o novo regime: com total aversão aos políticos tradicionais (a quem jocosamente  chamavam de “casacas”, termo em uso desde a República Velha) e articulando apenas com poucos elementos civis interessados na queda da velha ordem varguista ou com interesses pessoais mais urgentes e eleitoreiros, com perigo de perder a proeminência num movimento que eles achavam que lhes pertencia desde  1954, a única saída que se colocou para os militares foi romper o acordo com os civis, que já nascera frágil e endurecer o regime, o que provocou além dos devidamente conhecidos efeitos (suspensão do funcionamento do legislativo, supressão das liberdades civis, entre outros), e ocupar com a oficialidade diversos cargos em carreiras de Estado, em detrimento de funcionários públicos de carreira, tendo como alvo principal os que eram vistos como comunistas ou participantes da velha ordem. Essa ocupação de espaços não se fez por mérito ou competência, mas sim por lealdade e identificação com os ideais da “revolução”. Se a intenção primordial era a limpar a coisa pública, ao que parece, o efeito foi,  além de inverso,  ampliar o já conhecido clientelismo e aparelhamento estatal, triste costume herdado do nosso modelo de Estado, patrimonialista português, que remonta ao descobrimento e da qual não conseguimos nos livrar nem durante a redemocratização, e que perdura até hoje, pois o regime nunca alcançou a homogeneidade imaginada por seus realizadores. Um exemplo prático dessa postura eram os serviços de informação, onde cada Força tinha o seu, e ainda havia um serviço nacional, o famigerado e temido SNI . Embora homens brilhantes tenham colaborado numa necessária reforma imediata do sistema financeiro (como os professores Gouvêa de Bulhões e Mário Henrique Simonsen), por exemplo, o aparelhamento militar estatal legou ao país uma coleção de erros que atrasaram nosso desenvolvimento,em parte devido ao aparelhamento burocrático feito a base apenas de identificação com o regime e importando junto toda a indisciplina e desconfiança vigente na tropa há mais de 30 anos, sendo equívocos citáveis:o protecionismo econômico, o intervencionismo estatal e o centralismo no planejamento, não permitindo a criação de um pacto federativo mais arejado e condizente com  a interiorização do Brasil. São males as quais o país ainda está exposto e que depõem com números (taxas de crescimento econômico e indicadores sociais medíocres) contra a santificação, por parte de alguns saudosos e outros neófitos, do movimento militar de 1964. Não houve aprimoramento das instituições públicas nem da iniciativa privada. Os problemas internos dos grupos militares e sua maneira de conduzir a administração federal levaram a um Estado engessado, clientelista e desconfiado, beirando a paranóia. Nem o crescimento galopante do “milagre econômico” salvou o estrago e no fim, depõe contra si mesmo, pois além de ter vida curta, ajudou a concentrar a renda dos mais ricos em detrimento dos mais pobres, uma armadilha econômica que ainda sofremos para desarmar.


A Alma e o Deserto

“Este país não pode dar certo. Aqui prostituta se apaixona, cafetão tem ciúme, traficante se vicia e pobre é de direita”
“Na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri.”
(Sebastião Rodrigues Maia, o Tim Maia, 1942-1988)

Com seu espírito amalucado e contestador, Tim Maia viu como poucos além das aparências e desnudou a alma do país. Frasista inspirado e compositor significativo deixou um legado de compreensão a respeito de como se sentem e como pensam em privado os brasileiros. Ou melhor, não pensam. Nada que já tenha sido escrito a respeito, prepara o observador do nosso tempo para o que ele vê, ou não vê, nos dias atuais. Pra onde se olhe, há uma figura incompleta esperando uma definição do que ela seja ou virá a ser.
Somos um país indefinido. Não sabemos bem o que somos e nem o que queremos ser. Levamos a vida ao vento, ao sabor dos acontecimentos, esperando sempre que alguém resolva nossos problemas por nós, ou esperando que alguém sofra uma perda pra ocuparmos o lugar. Não uso o termo “perda” de forma específica, pois na terra do “jeitinho”, ela pode ser de qualquer natureza, contanto que alguém perca, e eu me locuplete.  Não existe em escala a pretensão de construir, e sim a de esperar a destruição, e se for algo que nos atinja, que alguém coloque algo no lugar, para podermos recomeçar o ciclo “vida mansa-inveja-destruição do semelhante” novamente.
Abominamos o confronto como forma de resolução de problemas e desconfiamos da livre iniciativa, olhando a pessoa que a tenha com um misto de pena e –novamente- inveja, admirando seu sucesso, mas esboçando um meio sorriso com sua derrocada.  Pra que tanto esforço? Eu vivo a vida que me permitem e estou aqui, vivo – mas não necessariamente realizado e feliz. A restrição ao confronto de idéias faz com que sejamos um povo dissimulado aos olhos de quem nos visita de fora, ou apenas incompreensível. Um povo que se utiliza de subterfúgios para obter o que quer, e que tem um prazer patológico em apontar defeitos alheios.
Um país com essa dinâmica não tem como dar certo, se esperamos que uma entidade etérea, que materializamos na figura do Estado, embora a maioria de nós não consiga enxergar dessa forma, resolva nossa vida. Falta compreensão e discernimento. O governo tem de me dar saúde e educação. Emprego? Tem de dar. Mas não sabemos como. Transporte também. Desde o coletivo e até o individual (!!). Sim, eu quero meu carro, que eu vou ter de financiar a juros de agiota, gastar com gasolina, manutenção, seguro, ficar preso em congestionamento e não ter onde estacionar - mas o governo, essa entidade indefinível, tem de me dar.  A iniciativa individual é morta entre nós, um cadáver insepulto, o bode na sala. “Eu faria as coisas por mim mesmo, se o governo me desse condições... mas como ele não me dá, vivo com o que ele me dá.” E o que ele dá? Bolsas em universidades particulares de ensino duvidoso, preservando com esse processo danoso as vagas disputadas no ensino público superior para o topo da pirâmide, aqueles que têm condições de estudar nos melhores colégios particulares, uma inversão de valores que eu considero criminosa. Médicos estrangeiros trabalhando em regime de semi-escravidão, que não conhecem febre maculosa e outras doenças sem paralelo no país de origem da maioria, tidos como milagreiros nos grotões porque são obrigados a trabalhar onde os médicos locais não trabalhariam por falta de condições. Cuidam de gente tão carente que dão graças a Deus até em erro médico. Distribuindo dinheiro para famílias se perpetuarem na miséria, sem uma alternativa que poderia ser, ora, ora, o ensino e difusão da livre iniciativa, tão longe da alma de nosso povo e execrada pela classe política em larga escala, pois, habituados a ela, as pessoas poderiam traçar paralelos perigosos entre certas atitudes dos governantes e a verdade simples, de como as coisas deveriam ser. Um povo que se deixa levar porque não tem a quem recorrer. Justiça? Conceito abstrato que na cabeça do cidadão comum se define por “prender e soltar os ricos, prender os pobres e demorar pra soltar, se soltar e demorar pra resolver qualquer coisa” qualquer demanda que a ela se apresente, desde pensão alimentícia até roubo de milhões. As iniciativas no sentido de entender a situação geral acabam sendo eclipsadas pelo deserto cultural a que somos expostos onde, mais importante que acompanhar um projeto de lei sobre saúde e educação, é a separação escandalosa do casal do momento. Momento este onde acaba estourando também o novo escândalo político, e nós, já anestesiados, apenas balançamos a cabeça e dizemos “mais um”, sem indignação, apenas conformismo.
Entre abril e junho de 2013, este estado de coisas sofreu um soluço, da qual eu particularmente imaginava que seria apenas isso mesmo, um soluço. A causa inicial era muito frágil na essência, um aumento em valores absolutos irrisório no preço dos transportes, mas que atraiu centenas de milhares nas ruas, num sentimento difuso de inconformismo e cansaço moral. Mas o fracasso era certo porque, mais uma vez, cobramos tudo de alguém, sem verificarmos qual a parte nos cabia. Foram cobrados hospitais e melhora na saúde, mas só vamos ao médico quase em risco de vida, podendo ser já numa fase em a doença é dolorosa, difícil e custosa. Cobramos melhor uso do dinheiro dos impostos apenas para que o smartphone do momento ou o carro desejado custem mais barato, não para que um uso racional do dinheiro público permita também a criação de condições econômicas melhores, gerando possibilidade de melhoria na educação, criação de empregos mais qualificados e mais bem remunerados. Nessas condições, atendidas as demandas mais visíveis, em decisões rasas e populistas, houve uma acomodação previsível do movimento.
E voltamos ao início. Pedimos e não nos mexemos mais. A classe política se acomodou nas mesmas condições anteriores, e maneja como títere a massa semipolitizada, que volta ao estado inicial de “deseja-inveja-alguém tem de me dar porque eu me mato de trabalhar”. É uma corrida de ratos, da qual não nos livraremos, porque mais que falta de educação ou cultura, é a alma de um povo que gosta de constar como alegre e receptivo, mas que no fundo é apenas acomodado e invejoso. Não tem como dar certo.
Lembrem-se do síndico: “Na vida a gente tem que entender que um nasce pra sofrer enquanto o outro ri.”