Não, não sou defensor da presidente Dilma, aliás, muito
longe disso. Graças a ela, sinto pela primeira vez o bafo da involução social à
minha porta. Desde que me tomei por gente, posso dizer que minha vida se tornou
uma evolução constante, tanto material quanto moral. Tirando atitudes pessoais
que possam ter contribuído para a minha melhora ou piora desde o ano passado a
parte de minha vida e de minha família que dependem de fatores externos, como a
situação da economia, vem regredindo visivelmente. A cada ida ao mercado,
preços diferentes, combinado com a queda do meu poder aquisitivo, pois meu dissídio
coletivo é sobre a inflação medida em 12 meses do ano anterior, desconsiderando
os efeitos dela em 2015, criando uma defasagem de renda faz com que sejamos
vítimas da famosa piada em que sobra muito mês no fim do salário.
Dito isto, volto ao título, pois embora veja na sociedade um
anseio grande de mudança no poder, e também outras mais profundas, não acredito
que o impedimento da presidente seja fato consumado. Já como ser pensante,
acompanhei o impedimento de Collor com atenção, e utilizando minhas lembranças,
vejo algumas diferenças no processo. A principal delas, o lado que o PT ocupa.
Naquela época, o PT era estridente oposição, e utilizando
sua penetração na sociedade, ajudou a instigar o movimento de impeachment. Era
um momento em que a sociedade vinha altamente politizada, com uma eleição
presidencial recente e economia em frangalhos. Cabe salientar também o momento
em busca de ética, já que os descalabros cometidos contra economia junto às
estripulias pessoais do então presidente e seus apaniguados causavam repulsa na
sociedade.
Vinte três anos depois, o PT é o alvo. Com a sociedade amortecida
por 13 anos de um bem-estar ilusório, que num povo inculto se associaram a
relaxamento das regras morais, o momento de descalabro econômico e social que
se apresenta a repulsa da sociedade novamente se mostra, com atores novos, mas
com a mesma raiz, mas numa dimensão e velocidade inimagináveis tempos atrás.
Mas graças à mudança no sentido de ética da sociedade, os atores políticos se
descolaram da realidade e tomam decisões num tempo diferente da população, que
já repudia em maioria e quer a saída do governo vigente.
Por que o tempo dos políticos ficou diferente do da sociedade?
Por que os governos dos últimos 13 anos, e não há como não apontar para o PT,
embora eles queiram levar o foco da desordem que proporcionaram pra uma ação
orquestrada da CIA, ou uma crise internacional e inexistente e, se preciso for,
numa invasão marciana contra o Brasil, trabalharam num sistema de cooptação
política sem precedentes, utilizando nosso dinheiro (Sim, nosso dinheiro, pois
como diria Margaret Thatcher, a dama de ferro, não existe dinheiro público,
existe dinheiro dos pagadores de impostos, ou seja, nós) para a compra de
políticos, através de assalto direto ao Estado (Petrobrás, Correios, Fundos de
Pensão estatais, BNDES) ou o simples achaque aos entes privados cujos negócios
dependem em parte, ou inteiramente, das benesses do Estado, como empreiteiros
de grandes obras públicas, empresários e sim, banqueiros.
Com o nosso dinheiro, eles pagaram bem o suficiente os
políticos pra entrarem numa zona de conforto onde os anseios da sociedade são
deixados de lado em detrimento ao repasse de dinheiro, um cargo público, uma
emenda liberada pra uma obra sem necessidade ou uma ONG fajuta. Graças a isso,
consegue aliados tão díspares quanto o PSOL (contra o impeachment apenas por
solidariedade ideológica, num abraço de afogados com o PT) e o PSD, controlado
pelo modelo de pragmatismo fisiológico que é o ex-prefeito de São Paulo
Gilberto Kassab.
Outro braço desse grande conluio que me deixa cético quanto
ao impeachment é o controle dos movimentos sociais pelo PT, no mesmo processo
de cooptação em que gordas fatias de nosso dinheiro de impostos vão pra ONGs que
não fazem senão defender o governo, movimentos a margem da Lei como o MST e o
MTST e sindicatos e centrais sindicais que donos de privilégios, podem em
última instância partir para radicalização a fim de não perder a mamata
conquistada. Não é dada a devida atenção a esse fator, mas em minha opinião não
pode ser desprezado.
E um último braço, o mais vergonhoso deles em minha opinião,
é a absoluta parcialidade da maioria da imprensa em favor do governo. Após anos
de doutrinação ideológica no ensino superior de Jornalismo, as redações estão
infestadas de simpatizantes do PT e o que vemos é a mais vergonhosa campanha de
desinformação já vista no Brasil, com o agravante de ser feita em tempos de
imprensa livre. Recentes abusos e manifestações contra militantes
pró-impeachment não são noticiadas. Desde que o presidente da Câmara Eduardo
Cunha aceitou o pedido de impeachment, as TVs abertas, parte do noticiário da
TV paga e um dos maiores jornais do País têm escondido opiniões e manifestações
a favor e publicando e reverberando opiniões de que o impeachment é golpe,
mesmo sendo previsto em Constituição com Lei específica. Vergonhosa em
especial, é a postura da Rede Globo e do jornal Folha de São Paulo,
especialmente, pois se as Organizações Globo ainda têm um jornal pra equilibrar
com suposta imparcialidade a gritante parcialidade de seu jornalismo televisivo,
a “Folha” não goza desse privilégio e embarca num adesismo vergonhoso.
Com a junção de todas essas variáveis, e com a campanha que
já deflagraram cada uma a seu modo, não há como ser otimista sobre o processo
de impeachment. Não embarco na onda de que Dilma já era. No fim das contas, ela
só precisa de 171 votos em plenário pra se salvar. Pode ser que ela conte com
171 abnegados que vão se suicidar politicamente para salvá-lá. Mas eu
certamente não dou como fato consumado que sejam conseguidos 342 votos para que
o processo vá pro Senado. Só a nossa intensa pressão sobre o Parlamento fará
com que o desejado pela população aconteça, mas a descoberta da sociedade de
que ela pode fazer diferença é recente, e sinto que muitas pessoas ainda não
entendem como isso acontece, além do cansaço que toda a situação está causando,
deprimindo o País. Eu estou cético, mas não vou esmorecer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário