Li recentemente neste jornal da qual sou assinante uma
missiva a respeito do processo de impeachment, onde o escritor detalha os
passos do processo, mas permeia a narrativa com comentários pessoais onde
mostra ignorância e ranço ideológico. Mas não é a esse ponto que quero me ater.
O ponto que me chama atenção é a citação aos “tempos sombrios de
conservadorismo despótico”. Em primeiro lugar, o despotismo, sistema e político
dominante nos séculos XVII e XVIII,se baseia na concentração excessiva de poder
em mãos do governante, cujo sua representação mais completa se dá na frase
lapidar do rei francês Luís XIV
(1643-1715)“Le Etat c´est moi” (O
Estado sou eu). Ou seja, não pode ser
identificado como de direita ou esquerda, pois ele era um sistema em si, não
uma escolha política.
Esclarecido isso, me atento ao fato de que certos atores
sociais e uma grande parte da imprensa, reverberando em parte da sociedade que
se diz esclarecida politicamente, está assustada com a ascensão dos novos
movimentos de direita do país, como se isso fosse uma coisa ruim. Prezassem
esses atores o debate político como forma de esclarecimento e confluência de
idéias, não teriam esse medo, mas como donos da verdade absoluta e agindo como
seita, simplesmente desconstroem o que
não conhecem com ofensas pessoais, inverdades, incapazes que são de sustentar o
debate sem apelar a baixeza.
Mas o que prega, afinal, a nova direita no País, que podemos
também chamar de movimento liberal-conservador? Nada mais do que uma ideia que,
posta em prática em grande parte do mundo ocidental, com sucesso, de crença na
liberdade do indivíduo como agente de mudança social, respeito à propriedade
privada e a inviolabilidade dos contratos, que tem de ser respeitados e a
impessoalidade da Lei, que tem de ser igual para todos. Funciona nos Estados
Unidos, na França,na Inglaterra, no Japão, entre outros países desenvolvidos, e
porque não funcionaria no Brasil ? O liberal-conservador verdadeiro é humilde,
aceita que o homem é falível, mas não acredita que alguém possa saber mais o
que é melhor pra uma pessoa do que ela mesma, assim desconfia da ação do Estado
legislando em excesso na vida do cidadão, Estado esse que deveria se ater ao
principal (Saúde, Educação, Segurança) e agir apenas como agente regulador
deixando livre a circulação de idéias e mercadorias. Procurando sempre o
esclarecimento, preza o debate rigoroso de idéias, inclusive conhecendo todos
os principais autores de esquerda, sendo que esquerdistas em geral não são
capazes de citar cinco pensadores de direita. É mais fácil encontrar um
exemplar de “O Capital”, de Karl Marx na biblioteca de um liberal-conservador
do que de um esquerdista.Mas com medo de perder a supremacia nas universidades,
na maior parte da imprensa e na política, a esquerda identifica esse
ressurgimento da direita com uma parte minoritária que se identifica com o regime
militar de 1964, aliás, regime esse que embora combatesse a “ameaça
comunista”,economicamente não pode ser citado como um governo de direita
típico, pois sua raiz remonta ao nacionalismo dos anos 1950, com idéias como “O
Petróleo é Nosso” e “Brasil:Ame-o ou Deixe-o”, com algumas pitadas de economia
liberal, pontuadas pelas reformas econômicas de 1967, que criaram o Banco
Central e a correção monetária. Esse grupo de simpatizantes, cujo maior
expoente é o deputado Jair Bolsonaro, é claramente minoritário, mas suas ações
tem mais ressonância na imprensa do que o do movimento liberal-conservador
típico, numa mistificação grosseira e desonesta.
O novo movimento liberal-conservador no Brasil ainda é
incipiente, mas já faz barulho. Por ora a esquerda ainda não tem o que temer.
Mas em algum momento, ele encontrará o devido eco na sociedade, a medida que
mais pessoas forem conhecendo suas idéias, e assim caminharmos para uma
sociedade com verdadeira economia de mercado, mais próspera e plena.
Texto publicado na coluna de leitores de um jornal do interior de São Paulo em resposta a canhestra declaração dado na introdução do texto sobre o conservadorismo.
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