quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

A quem assusta a nova direita no País ?

Li recentemente neste jornal da qual sou assinante uma missiva a respeito do processo de impeachment, onde o escritor detalha os passos do processo, mas permeia a narrativa com comentários pessoais onde mostra ignorância e ranço ideológico. Mas não é a esse ponto que quero me ater. O ponto que me chama atenção é a citação aos “tempos sombrios de conservadorismo despótico”. Em primeiro lugar, o despotismo, sistema e político dominante nos séculos XVII e XVIII,se baseia na concentração excessiva de poder em mãos do governante, cujo sua representação mais completa se dá na frase lapidar do rei francês Luís XIV  (1643-1715)“Le Etat c´est moi”  (O Estado sou eu).  Ou seja, não pode ser identificado como de direita ou esquerda, pois ele era um sistema em si, não uma escolha política.
Esclarecido isso, me atento ao fato de que certos atores sociais e uma grande parte da imprensa, reverberando em parte da sociedade que se diz esclarecida politicamente, está assustada com a ascensão dos novos movimentos de direita do país, como se isso fosse uma coisa ruim. Prezassem esses atores o debate político como forma de esclarecimento e confluência de idéias, não teriam esse medo, mas como donos da verdade absoluta e agindo como seita,  simplesmente desconstroem o que não conhecem com ofensas pessoais, inverdades, incapazes que são de sustentar o debate sem apelar a baixeza.
Mas o que prega, afinal, a nova direita no País, que podemos também chamar de movimento liberal-conservador? Nada mais do que uma ideia que, posta em prática em grande parte do mundo ocidental, com sucesso, de crença na liberdade do indivíduo como agente de mudança social, respeito à propriedade privada e a inviolabilidade dos contratos, que tem de ser respeitados e a impessoalidade da Lei, que tem de ser igual para todos. Funciona nos Estados Unidos, na França,na Inglaterra, no Japão, entre outros países desenvolvidos, e porque não funcionaria no Brasil ? O liberal-conservador verdadeiro é humilde, aceita que o homem é falível, mas não acredita que alguém possa saber mais o que é melhor pra uma pessoa do que ela mesma, assim desconfia da ação do Estado legislando em excesso na vida do cidadão, Estado esse que deveria se ater ao principal (Saúde, Educação, Segurança) e agir apenas como agente regulador deixando livre a circulação de idéias e mercadorias. Procurando sempre o esclarecimento, preza o debate rigoroso de idéias, inclusive conhecendo todos os principais autores de esquerda, sendo que esquerdistas em geral não são capazes de citar cinco pensadores de direita. É mais fácil encontrar um exemplar de “O Capital”, de Karl Marx na biblioteca de um liberal-conservador do que de um esquerdista.Mas com medo de perder a supremacia nas universidades, na maior parte da imprensa e na política, a esquerda identifica esse ressurgimento da direita com uma parte minoritária que se identifica com o regime militar de 1964, aliás, regime esse que embora combatesse a “ameaça comunista”,economicamente não pode ser citado como um governo de direita típico, pois sua raiz remonta ao nacionalismo dos anos 1950, com idéias como “O Petróleo é Nosso” e “Brasil:Ame-o ou Deixe-o”, com algumas pitadas de economia liberal, pontuadas pelas reformas econômicas de 1967, que criaram o Banco Central e a correção monetária. Esse grupo de simpatizantes, cujo maior expoente é o deputado Jair Bolsonaro, é claramente minoritário, mas suas ações tem mais ressonância na imprensa do que o do movimento liberal-conservador típico, numa mistificação grosseira e desonesta.

O novo movimento liberal-conservador no Brasil ainda é incipiente, mas já faz barulho. Por ora a esquerda ainda não tem o que temer. Mas em algum momento, ele encontrará o devido eco na sociedade, a medida que mais pessoas forem conhecendo suas idéias, e assim caminharmos para uma sociedade com verdadeira economia de mercado, mais próspera e plena.

Texto publicado na coluna de leitores de um jornal do interior de São Paulo em resposta a canhestra declaração dado na introdução do texto sobre o conservadorismo.

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