segunda-feira, 2 de abril de 2012

Da vocação para a grandiloquência

Existe algo na alma do país que muito me incomoda. Diz respeito ao título do post.A grandiloquência dominante em parte da grande imprensa, na boca do povo e na comunicação política. Somos sempre "os maiores" ou se não somos, a nossa posição , se boa, é realçada com destaque. " Somos o quinto maior mercado do mundo para tal coisa" , "somos o campeão mundial disso", "maior produtor mundial daquilo". Até nos rankings que não nos favorecem, a miragem do "Brasil Grande" impera. "Campeão mundial de acidentes de trânsito".
Para definir meu pensamento a respeito, eu teria de usar uma figura escatológica, e me recuso a fazê-lo. Digamos apenas que creio que essa mania diga respeito ao complexo de vira-lata de Nelson Rodrigues ou aos anos em que o futuro do país parecia não ter futuro, as coisas não davam certo e tudo parecia perdido. Agora, com o país estável e crescendo, essa vocação nacional tem sido exacerbada, até por inspiração dos novos donos do poder, de forma a ressaltar conquistas que eles consideram apenas "deles".
A pior parte desse pensamento diz respeito a um aspecto disso que virou política de Estado: a formação de "grandes campeões nacionais". Dou dois exemplos nessa linha de pensamento: um grande frigorífico que virou o maior beneficiador de carne do mundo, e nem por isso a carne diminuiu sua escalada de preços rumo ao infinito e a grande companhia telefônica que por influência do governo mudou seu quadro societário virando um gigante de telecomunicações que não consegue sequer dar uma rede decente a seus assinantes, e não ajuda a baixar os preços da telefonia celular.
O efeito deletério desse problema é mascarar a realidade. Afinal, o que adianta ser o maior produtor de etanol do mundo se não damos conta do mercado interno, que passa seis meses por ano em entressafra, mesmo com duas safras colhidas por ano ? Ou ser o maior produtor mundial de soja sem ter infra-estrutura para escoá-lá ? Ser o quarto maior mercado automobilístico do mundo se o nosso trânsito não anda, e quando anda, mata ? Onde estão as vantagens ?

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